sexta-feira, abril 22, 2011

O Lobo da Estepe


       Fez-me entrar no quarto, que recendia a forte cheiro de tabaco, tirou um livro de uma pilha deles, folheou-o à procura.
       - Esta aqui também é muito boa - disse. - Veja só esta frase: "O homem devia orgulhar-se da dor; toda dor é uma manifestação de nossa elevada estirpe." Magnífico! Oitenta anos antes de Nietzsche! Mas não é esta passagem que eu pensava mostrar-lhe... Espere, aqui está. Ouça: " A maioria dos homens não quer nadar antes que o possa fazer." Não é engraçado? Naturalmente, não querem nadar. Nasceram para andar na terra e não para a água. E, naturalmente, não querem pensar: foram criados para viver e não pensar ! Isto mesmo! E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, mas sem dúvida estará confundindo a terra com a água e um dia morrerá afogado.



HESSE, Hermann. O lobo da estepe; tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro - São Paulo: Record, 2010.
Trecho: pág. 26 e pág. 27.

segunda-feira, abril 18, 2011

Roupas velhas

Eu gosto das minhas roupas velhas
Porque elas lembram a mim
Quando esqueço quem fui
Eu gosto das minhas roupas velhas
Porque elas já conhecem o jeito do meu corpo
Quando esqueço a forma que tenho

Eu gosto das minhas roupas velhas
Porque elas já conhecem o caminho que sigo
Quando esqueço o meu destino
Eu gosto das minhas roupas velhas
Porque elas me fazem lembrar
Da forma que você as arrancou

Eu gosto das minhas roupas velhas
Porque sem aquela goma de novas
Conseguem mostrar melhor como são
Eu olho para as minhas roupas velhas – Eder... –.
E elas me respondem –... son –
.

Ederson R. Zanchetta – 6 de abril de 2011