quinta-feira, agosto 27, 2009

Capa de couro

Minha cabeça dói
E o coração apenas bombeia sangue
Palavras de amor ou de ódio
Escritas no papel
São apenas, preto no branco
O sol vem de dia
A lua vem de noite
É preciso olhar para um lado
E é preciso olhar para o outro
Antes de atravessar a rua
É preciso não falar com estranhos
E não ser sincero com os conhecidos
É preciso ganhar muito dinheiro
E é preciso gastar mais do que isso
Saber somar também
Afinal um mais um será sempre dois
A vida é um presente
E a morte um futuro
O cético vence o romântico
E é preciso viver à ortodoxia
Aquele momento em que me hesitou dizer
Foi apenas um momento de vão silêncio
E não é preciso rimar
Não serve para nada

Ederson R. Zanchetta – 27 de agosto de 2009

quarta-feira, agosto 26, 2009

Queria estar dormindo

Como posso eu, agora assim, dormir?
Se me assolam memórias e lembranças, de quando, da companhia dela
Na minha cama seu suor e seu xampu no travesseiro
A infantil saudade, na minha cabeça abre um berreiro

Os minutos, se tornam horas e minha respiração, está dolorida
O perdido, apaixonado, não quer mais, nada desta vida
Peço que deixem a luz acesa quando fecharem a porta.
Cadê o fôlego, a vitalidade para viver, como sempre vivi, sozinho

Nunca imaginei, precisar tanto do teu pouco de carinho
Está difícil de passar esta noite, eu escrevo, para ver se me vejo
De repente, um pouco distraído. Porque se isto é tudo o que posso amar agora

Então escrevo, para amar neste papel. A carência, o lado carnal, humano, animal
As saudades daquele tempo, em que tudo estava bem, em que a vida era tão simples
Eu hoje aqui, lembrando de você, deitado escrevendo com carinho.

Há uma ebulição de sentimentos, uma excitação, um gozo da libido
Esta madrugada, tão clara e louca, hostil pulsa à minha cara
No meu relógio, não vejo horas, mas sei que já é tarde queria estar dormindo


Ederson R. Zanchetta - 25 de Agosto de 2009

sábado, agosto 22, 2009

O coveiro

Uma tarde de abril suave e pura
Visitava eu somente ao derradeiro
Lar; tinha ido ver a sepultura
De um ente caro, amigo verdadeiro.

Lá encontrei um pálido coveiro
Com a cabeça para o chão pendida;
Eu senti a minh’alma entristecida
E interroguei-o: "Eterno companheiro

Da morte, que matou-te o coração?"
Ele apontou para uma cruz no chão,
Ali jazia o seu amor primeiro!

Depois, tomando a enxada gravemente,
Balbuciou, sorrindo tristemente: -
"Ai! Foi por isso que me fiz coveiro!"


Augusto dos Anjos

quinta-feira, agosto 13, 2009

Mutantes

Bêbados Habilidosos
Mutantes
Envelhecido 12 Anos


O que hoje somos
Não se compara ao que fomos
Ao que fomos antes
Quando éramos bem mais mutantes
E nem mesmo o céu, nem mesmo o céu
Nem mesmo o céu é azul como antes

O amor é a única coisa
Eternamente nova
O tempo passa e ele continua
Botando a gente à prova

Meu bem
Quando eu disser que te amo
Diga que me ama também
Meu bem
Quando eu disser que te amo
Diga que me ama também

quinta-feira, agosto 06, 2009

Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Augusto Dos Anjos