quinta-feira, novembro 22, 2007

A Língua dos Anjos

Foi assim, como num sonho. Estava tudo muito claro e reluzente, talvez até demais para os meus olhos, o lugar era lindo, como montanhas com seus picos cobertos por neve, tudo muito branco, muito claro, quase transparente. Que lugar era aquele?!

Havia pessoas - de longe ao menos pareciam - mas ao me aproximar assustado e perdido percebi que não eram pessoas comuns, eram altos, magros, uniformes, não sei se posso chamar de olhos, cabelos, braços o que tinham. Apenas me passavam uma estranha confiança, havia uma luz muito forte ao redor de cada um, algo até então desconhecido por mim. Aquela sensação estranha me intrigava - não sei se exatamente por isso - eu me aproximava cada vez mais, eu estava com frio, com fome, meus pés machucados sangravam, pois estava andando descalço no chão de pedregulhos.

Os estranhos então notaram-me, por alguns momentos senti medo, mas um deles me estendeu a mão e apenas com um olhar me convenceu a agarrar sua mão. Eu não sentia maldade alguma vindo daqueles seres, era tudo fantástico, enigmático. Então vieram mais dois e levaram-me a um abrigo. Ao chegar os vi conversando pela primeira vez, estranho - acho que é essa a palavra - eu não entendia absolutamente nada, que dialeto era aquele?! Parecia grunhidos como de um mudo, mas o intrigante mesmo era reparar como eles conseguiam grunhir tão pouco e se compreenderem tão bem.

Que noite maravilhosa passei me senti em casa, me senti bem, acompanhado, eles me fizeram curativos nos pés, faziam gestos com a mão e o corpo como se estivessem querendo me dizer algo, talvez que me conheciam, que sabiam da minha vida, aparentemente tinham dó de mim, e um amor muito grande, algo como compaixão.

Dias se passaram e eu cada vez mais prestava atenção em sua comunicação, eles me manteram muito bem, fui sarando aos poucos de todas as minhas dores e esquecendo as mágoas terrenas, era tudo maravilhoso demais, eu gostaria de poder retribuir, ao menos entender o porquê daquilo tudo.

Meses se passaram e fui me familiarizando com seu dialeto, apesar de não demonstrar nem tentar me comunicar com eles. E no meu melhor momento apareceu um outro ser, diferente, parecia com mais autonomia, mas nenhuma maldade também, então ele me levou à um outro lugar, nos acomodamos e ele começou a me explicar que eu havia sido escolhido para salvar o meu povo, o mundo das roupas pretas, a Terra. Eu não entendia o porquê disso, mas ele preocupado, explicou-me que seria a última tentativa deles de resgatar a paz e o amor na Terra, e simplesmente pegaram e mostraram para um mortal como eu que é possível amar sem exigir nada em troca, que é possível e confortável fazer o bem ao próximo. O que eu não sabia era da missão que eu haveria de cumprir aqui na Terra.

Pois bem, logo após de tudo explicado eu me senti honrado por essa escolha e responsabilidade que a mim foi empregada, chorei por lamentar não poder mais ficar lá com eles, mas sabia que ali não era o meu lugar, não ainda.

O anjo então me levou para o topo da montanha mais alta e apontou para baixo mostrando-me uma rosa, uma linda e frágil rosa branca que estava sobrevivendo em meio àquele cenário frio, com toda aquela geada, e sem mais plantas ao seu redor, ele então disse-me:
- Aquela é a esperança, todas as outras flores ao seu redor morreram, desistiram de lutar, aquela é você, e os seus sentimentos positivos, aquela é o motivo de nós o termos escolhido, se você desistir aquela rosa morre, não a deixe secar, lembre-se dela todas as noites durante sua jornada.

Então, sem mais demora virei-me para o anjo e com uma última lágrima escorrendo pelo meu rosto indaguei:
- Adeus.

Foi quando acordei na minha cama, no meu quarto, na minha casa.
É, e foi assim que aprendi a falar a língua dos anjos.

Ederson R. Zanchetta - 26 de Abril de 2005

Um comentário:

Anônimo disse...

vc escreve muito bem veio

ow tô escutando uma música que deu uma trilha sonora legal pro seu "Livro"

http://www.youtube.com/watch?v=VuCLYYhbML8&feature=related


"E todas as estradas pelas quais temos de caminhar são
sinuosas,
E todas as luzes que nos conduzem até lá estão nos
cegando.
Existem muitas coisas que eu gostaria de dizer para
você,
Mas eu não sei como...

Porque talvez
Você vai ser aquele que me salvará..."

^^